[lacnog] Draft: Unicast Use of the Formerly Reserved 127/8

Seth David Schoen schoen en loyalty.org
Jue Dic 2 22:22:06 -03 2021


Bom dia,

Desculpe pela demora em responder bem como por não manter o In-Reply-To:
/ References:, porque eu não estava membro dessa lista até anteontem.
Assim essa mensagem provavelmente vai aparecer fora de sequência
no tópico.

Sou o autor principal desses quatro esboços que a comunidade discutia
muito recentemente, e trabalho como consultor pelo John Gilmore, o
iniciador do Projeto IPv4 Unicast Extensions.  Por acaso sou falante
não-nativo de português.  Meus colegas me apontaram para a discussão
recente aqui e decidi entrar e participar um pouco para tentar esclarecer
alguns pontos e até defender um pouco as nossas propostas.

Agradeço o interesse que os participantes aqui mostraram por essas,
mesmo os que colocaram suas críticas, porque é importante entendermos
as experiências e pontos de vista dos operadores ao tentarmos evoluir
padrões da Internet.

Em primeiro lugar quero lembrar que temos quatro esboços atuais

https://datatracker.ietf.org/doc/draft-schoen-intarea-unicast-lowest-address/
https://datatracker.ietf.org/doc/draft-schoen-intarea-unicast-240/
https://datatracker.ietf.org/doc/draft-schoen-intarea-unicast-0/
https://datatracker.ietf.org/doc/draft-schoen-intarea-unicast-127/

dos quais apresentei os dois primeiros na reunião recente da IETF.
Entretanto o último -- para mim, o mais desafiador de implementar --
atraiu aproximadamente 20x mais atenção na comunidade.

Entendi da discussão recente aqui, bem como de outros comentários que
recebemos recentemente de outras partes, que muita gente desacordou
com o conceito básico de atualizar ou manter IPv4, ou de continuar a
tentar conservar e disponibilizar endereços IPv4.  Tentei separar os
argumentos um pouco e responder mais às preocupações das nossas
propostas competem por recursos com os esforços de adoção IPv6, ou
que sejam impraticáveis ou impossíveis.

O Leandro Bertholdo discutiu a história dos esboços Wilson e Fuller
na IETF, dizendo que

> Passaram-se mais de 10 anos e nem isso foi adiante. Esses IPs ainda sao
> considerados invalidos pelas RFCs correntes.
> 
> Linux responde como argumento invalido
> Routers também…
> Apple também

Mas as implementações - apesar de Windows - geralmente adotaram sim a
proposta em 2008, mesmo que não ficasse uma RFC.  Por exemplo em Linux
funciona o 240/4 desde 2.6.25, tendo sido adicionado em

 commit 1e637c74b0f84eaca02b914c0b8c6f67276e9697 
 Author: Jan Engelhardt <jengelh en computergmbh.de> 
 Date: Mon Jan 21 03:18:08 2008 -0800 

Em nossos testes também funciona, entre outros, no macOS e iOS.  Você
tem exemplo de um comando específico que produziu um erro?

Tivemos sucesso com propostas de adicionar várias funcionalidades das
nossas propostas em Linux e FreeBSD ao longo dos últimos dois anos;
Linux já possui apoio pelo 240/4, 0/8, e lowest host, e FreeBSD pelo
lowest host.  Não sugerimos a adoção das mudanças 127/8 em nenhum SO
ainda, sabendo que - diferentemente de 240/4 e 0/8 - têm um uso
possível verdadeiro atual além de desperdício.

Na realidade, a história das propostas anteriores incentivou o Gilmore
a propô-los de novo, sabendo que (1) temos 13 anos de experiência de
SOs muito usados _que já aceitam os endereços 240/4 sem a objeção ou
reclamação de ninguém_, e (2) temos 13 anos de tempo perdido em que
teria sido possível a atualização gradual dos outros SOs.  Agora, ele
não quer repetir a experiência perdendo mais 13 anos de oportunidade
de atualizações, já que de acordo com algumas pesquisas, é altamente
provável que o IPv4 ainda será importante para hospedagem de serviços
daqui a 13 anos.

Não é óbvio que podemos tornar úteis todos esses endereços.  (É uma
aposta para que termos mais opções no futuro.)  Entretanto, é aparente
para nós que continua existir um desperdício de recursos de numeração
de valor extremamente alto, que teria sido útil já ter começado
criar as condições de reduzir o desperdício, e que até possa ser
útil começar agora.  Por isso também dissemos que o uso eventual
desses endereços depende de testes e pesquisas sobre o nível de
usabilidade prática atingida.  Para nós, a experiência com o 1.1.1.1
é algo esperançoso, porque mostrou que mesmo um bloco de endereços que
muitíssimas redes tinham bloqueado ou usado para outros fins também era
capaz de desbogonização através de um esforço comunitário gradual.
O 240/4 ou 0/8 será mais difícil, mas o 1.1.1.1 já era difícil e as
pessoas conseguiram desbogonizá-lo.

Gostei de citar o provérbio que diz que o melhor tempo para plantar uma
arvore é há 30 anos, e o segundo melhor tempo é agora mesmo.  

O Leandro escreveu também que

> Se essas projeções fossem realizadas novamente, e considerando que
> hoje existe uma demanda reprimida, muito provavelmente esse espaço de
> endereçamento seria consumido em 1-3 meses por todos os RIRs.

O Gilmore discutiu isso muito com outra gente.  Ele escreveu na lista
NANOG (tradução minha):

> Não vai dar atropelo futuro que queima 300 milhões de endereços IPv4
> dentro de 4 meses.
> 
> Quando se distribuiam endereços IPv4 de graça, claro que as pessoas
> os agarraram o mais rápido possível.  Sobretudo uma vez que todos
> perceberam a chegada do fim da disponibilidade.  Precisou de burocacia
> administrativa detalhada, a verificação de papelada com "justificações",
> só para diminuir o atropelado.  (No começo dos anos 90 obtive
> 140.174/16 pelo mesmo preço como um bloco /24, só mandando alguns
> emais para pedí-lo.  No final da mesma decada, esse /16 ficou um dos
> ativos principais do nosso ISP pequeno!)
> 
> Já acabou tudo isso, e os endereços custam dinheiro num mercado real.
> As empresas só compram o que elas precisam, porque têm outros usos
> para seu dinheiro.  E outras empresas estão vendendo endereços que
> obtiveram no passado mas que não precisam mais.  É como a diferença
> de obter lotes de terreno de graça do governo, e ter que pagar pelo
> terreno.  Você preferiria ter 100 hectares ou 1000 hectares sem pagar.
> Mas tendo que comprá-lo, bom, um hectare já é muito útil, e deixa
> algum dinheiro para a construção.
>
> Agora temos um mercado.  Sempre que oferta baixa aumenta o preço de
> qualquer coisa, as pessoas compram menos dela.  A subida inicial
> de $0 cada um para $11,25 aconteceu em 2011, depois que ARIN disse
> que não havia mais endereços gratuitos, e Microsoft comprou os
> endereços de Nortel em venda de falência.  O mundo da Internet se
> adaptou.  Adicionar mais endereços globais daqui a alguns anos
> diminuiria os preços - um benefício para o consumidor - mas não
> não vai nos levar de volta ao modelo antigo pré-mercado.
>
> Eis uma análise no final de 2020 do mercado de transferências IPv4
>
>  https://circleid.com/posts/20201125-ipv4-market-and-ipv6-deployment
>
> Mostra um intervalo de 6 milhões a 16 milhões de endereços
> transferidos (vendios) por trimestre.  Isso corresponde aproximidade
> à análise do Geoff Huston sobre alocações gratuitas pelos RIRs, e
> transferências pagas IPv4.  Geoff indica que foram aproximadamente
> 2,2 milhões de endereços alocados e 26 milhões transferidos em 2020:
>
>  https://circleid.com/posts/20210117-a-look-back-at-the-world-of-ip-addressing-in-2020
>
> Às taxas atuais, 300 a 400 milhões de endereços durariam mais de uma
> década!  (Compare isso com os ~50 /8s não anunciados nas tabelas de
> roteamento global, aproximadamente 838 milhões, que são propriedade
> de algúem mas são susceptíveis de serem vendados a alguém que os
> puder rotear, durante a década próxima.)
>
> Mais uma vez, não queimaremos 300 milhões de endereços em 4 meses.

Alguém questionou se os RIRs aceitariam vender endereços ao preço de
mercado, em vez de alocá-los do jeito mais tradicional.  Ele respondeu
que pelo menos o APNIC já tem feito isso.

Para mim, esse projeto não pretende concorrer com o IPv6, nem questionar
ou atrasar sua adoção.  A mais alta demanda para IPv4 hoje parece vir
das empresas de hospedagem, porque muito poucos clientes aceitariam ter
um site sem endereço IPv4.  Para se mudar disso, precisaria de uma
adoção quase universal do IPv6 nas redes de acesso, que nenhuma pesquisa
que conhecemos prevê em breve.  O jeito mais acessível de oferecer
hospedagem hoje é hospedagem dual-stack com um endereço IPv6 ao lado de
endereço IPv4.  Fazer hospedagem dessa maneira ajuda o dono do site em
tornar seus serviços disponíveis ao maior número possível de usuários na
Internet - e mantém demanda para endereços IPv4.  E aqueles que
compraram as quantidades maiores de endereços IPv4 no mercado
ultimamente foram empresas de cloud hosting, que cada vez mais oferecem
hospedagem dual-stack, até como padrão.

Em outra lista alguém disse mais ou menos assim: "Seria muito legal
chegarmos ao ponto de poder usar (por exemplo) 240/4 na Internet daqui
a 6 ou 8 ou 10 anos, e descobrir que não o precisamos mais, porque a
adoção do IPv6 ficou quase universal no entretanto.  Mas sem começar
agora a tornar esses endereços úteis, não teremos essa opção no futuro,
mesmo se ela continuar útil."

E para nós, pelo menos os passos que propomos agora também não concorrem
com adoção IPv6 porque propomos por enquanto _mudanças em SOs_, dos quais
quase todos já funcionam muito bem em IPv6.  Não é uma proposta de adiar
apoio para IPv6 nesses sistemas.  Já o apoiam!


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